quinta-feira, 26 de março de 2009

Sem medo de morrer (The Life Before Her Eyes)

A vida diante de seus olhos. Filme de Vadim Perelman, estrelado por Uma Thurman. Esse título, que perdeu parte da explicação do filme na sua tradução para o português - Sem medo de morrer - mostra a fragilidade diante da vida. Por isso o filme me tocou - muito.
O que é e o que poderia ter sido me acompanha desde que li 'A insustentável leveza do ser', de Milan Kundera: O 'se' não existe; quando se escolhe um caminho, todas as possibilidades, alternativas, se fecham. 
"Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? [...] Não poder viver senão uma vida é como não viver nunca" (KUNDERA).
Diana, infelizmente, não teve essa escolha. Seu 'se' não ocorreu. Toda a sua vida (futura) passa diante de seus olhos diante da perspectiva do fim. O que ela imagina que poderia ter sido só faz sentido a partir do que ela mesma viveu. E a confluência do passado e do presente dinamiza a narrativa.
Vale a pena. Agradeço pela indicação do seu Jorge, pois não vi o filme nos cinemas.

Calmaria e vendaval

Choro e canto, mato e morro
Corro entre o bem e o mal
Sem querer faço da vida
Calmaria e vendaval
Passarinho e águia brava
Brisa mansa e temporal

Vendo o dia se apagando
Vejo a noite amanhecer
Passo o tempo procurando
Quem me possa responder
Como é que tem quem vive
Sem ninguém por quem morrer

Um caminho a gente encontra
Só questão de procurar
Se uma reta está no céu
Uma curva está no mar
Só não se acha saída
Quando a morte vem levar

            Vinicius de Moraes

sábado, 21 de março de 2009

Dançando no escuro


Filme lançado na França em 2000, tem como uma de suas atrações a cantora Björk no papel principal. Narra a história de Selma Jeskova, imigrante tcheca nos EUA, que sofre de uma doença genética que a levará à cegueira. Para evitar que o mesmo ocorra com seu filho, ela trabalha para juntar dinheiro para a operação que o curaria. O diretor e roteirista Lars Von Trier soube adicionar à história a dose perfeita de sensibilidade ao contrapor a ilusão de Selma à dura realidade de sua vida sem visão. São carregadas de cores as cenas em que Selma 'foge' do mundo real - pálido, seco, silencioso - para ingressar no musical de sua vida. Nesses momentos, a ternura invade a tela e vemos o que Selma vê - a realidade que seus olhos vêem.
A' cegueira' da moça certamente não lhe permitiu enxergar outras possibilidades para salvar a si e a seu filho. Essa é a metáfora, a meu ver, mais bela do filme. Pode nos mostrar a contraposição da vida que vivemos e a vida que imaginamos.
Destaque para o número musical nos trilhos do trem. Para encerrar, a voz de Pessoa:

"Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;

E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa